ANDAR A QUATRO PERNAS EM TERRA DE MANCOS

Chuleia, esboça, risca e apaga

À exaustão e vísceras,

À ordem: , ipsis litteris

Cabeça tronco e membro .

Julga-se, nortea, esmera

A terra vasta esquisita.

Homens de ternos, casacas e gravatas

Outros, sem eita nem beira

À ordem,  levar a prumo

Projeto falido, insólito, sisudo

casto de bondade.

Não se saberá  o gozo e preço

Sobre dois sapatos sujos

Justiça  e ideia

A quatro pernas, caminhan

A  trilha dos mancos.

BACCO

imagem wxtraida

Entendo a regência do tempo

Ârsis e thesis reprimidos

De voz rouca acima dos telhados

Ronca o tambor sem tempo.

Um homem manobra a batuta

Cheia de sangue e de vinho

Dela vamos todos sorver

até o casco.

Sejas Dionísio ou Bacco

Perto dos seus banquetes

Longe das suas tragédias

Caso puderes oportunizar.

A menina que banhava os pés na lua.

Crescente, quarto crescente, minguante …

Não importa. Se cheia, melhor

Enobrecer a tez sob os raios lunares.

Alçar com avidez a voz nos morros

Da terra fria sulista.

Cantar a canção do sonho de menina mulher

Entender e verter teu próprio encanto.

Negando toda corrente herdada

De sangue, de ódio e insensatez.

Brilhas nos cantos e centros dos amores

Té admirar de si mesma

Nos embalos dos cantos negros.

SEIXOS ROLADOS

As águas em movimento, por detrás, por diante, tocam os perfis duros e sizudos, minúsculos fragmentos se destacam, ganham autonomia e beleza arquitetônica.

Caso não, descendem dos vulcões reprimidamente, sem cheiro ,sem sabor, monocromaticamente decide por seu direito de organizar, enriquecer .

Invejam as ostras na sua formação silenciosa. De curso longo, molhado e frio, segue cada instante as ordens Divina da criação.

O LADO “C” DA GILLETTE

Há três lados na lâmina

Onde o “A” é o design implicante

Nos convence em sua utilidade.

No seu corpo de aço

Reconhecem os vintages

A função e a marca delineadas.

Ninguém nos convence

Ter outro lado além

de “A” e “B” , quase imperceptível

O lado *B” achamos ser

Oposto e complementação

Outra versão equivoca do aço.

Porém, o terceiro lado

segue como tônica

Fundamento e missão.

( Indelével ataque e sutileza)

Nele está toda arte e glória

Toda abruptalidade

da arte e do corte.

Deste, ninguém fala

Ninguém o apresenta

– Não fosse a espessura.

Tente negar sua existência

Silenciosa e fria

Um corte de morte o espera

Arrebanhar todos seus pêlos

Todos os selos

Da firmeza e da glória.

O lado “C” existe

No corpo de aço

No coração e n’alma

Na boca e coração cortantes

Desconhecidos até era vindoura

Das revelações e das palavras.

Morte do Livro

Ler por ler tanto faz. Seja,

por nuvem de fumaça,

batom no espelho,

luz neon,

Box de banheiro

para-choque de caminhão

Nestes, explicitadas as idéias,

ali terminam

Sem gosto, sem cheiro,

sem abraços, sem memória afetiva,

senão pela ocasião.

Um livro tem cheiro. É sinestésico.

Abraçam-nos à ele

Rememoram sua opacidade

Suas folhas amareladas

O Brilho do papel couchê .

O formato encaixa-se em nós

ou em nosso entorno.

interpõe-se no ambiente

Exige uma estante

base para se debruçar.

Não deseja ser extinto

Prefere ser doado.

Se causou morte às arvores

Mil vezes forma homens que as preservem

– Tempo suficiente para outras se erguerem –

Um livro é arquitetura

Diz Jonathan Safran Foer.

Literatura, cine, áudio

Sensações de frio e calor.

Espetáculo de riqueza e pobreza.

Canto, riso, choro. O espetáculo.

As sensações das narrativas

Nos invadem os poros, olhos, audição.

Nos ensinam virar a página

Lugar que só os pergaminhos sabem

Sentar e aguardar até que alguém

Volte e os consultem!

Extraído

A ordem do dia é, elucubrar. Transitar entre pessoas da mesma sintonia. Embriagar-se com despropósito nas ilhas da sobriedade e da beleza. Admirar um ao outro sem reservas. Oferecer e obter comidinhas e bebidas leves. Dançar como se fosse a primeira vez. Permitir a invasão do outro e permitir a originalidade nobre e majestosa. Montar a banca com as riquezas culinárias e servir, mesmo que seja corrido e apertado demais antes do set de filmagem. Pois trabalhar é necessário e não esquecer da ordem, elucubrar-se.

(Depois do sonho em que estavam atores famosos e outros não. Com a mesma energia. Entre eles, numa banca Walcyr Carrasco a vender seus lindos doces, salgados e peixes.Atendia ao mesmo tempo sua dezena de barracas; Aracy Balabanian, com quem dancei, octogenária, subia e descia as escadas como moleca. Todos falantes e simplórios, sem o orgulho dos deuses. Num sitio antes do set de filmagem)

– Na verdade o sonho me invade com comidas sempre pela manhã. Um hábito de meu estômago a oferecer refluxos que acabam se tornando quase pesadelos –

Do Single Jadiel Oliveira e Sarah Renata: Poema e canção, com dor e festa. ( excerto)

Cada canto do meu país tem lamento e riso, tem coração pulsando.
Tem gente chorando e tem gente dançando. É assim.
A gente aprendeu a seguir sem nunca abrir mão de resistir.
Nosso ritmo é festa e também é dor. Berimbau soando é nosso povo, nossa origem, nosso próprio sangue.
Atabaque vibra em pele marcada.
Nossa casa acolhe, celebra e recorda. Cabe tudo e todos.
Cada ritmo e cor. Aqui o divino habita no todo. No plural, no todo.